La violenza della Polizia

... e la risposta delle Comunità di Base

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Nel mese di maggio e giugno a São Paulo, quartiere S. Madalena, sono scoppiati casi di violenza truculenta

da parte della polizia, tutti contro la gente più semplice,

gente onesta e senza colpe, tranne quella di abitare in favela.

Le comunità cristiane di base ed il Centro di Difesa dei Diritti Umani hanno organizzato una udienza pubblica per denunciare la violenza della polizia attraverso le testimonianze della gente. E' stato un momento molto importante che ha smosso molto, grazie al coraggio della gente che ha parlato alla presenza di alte autorità. Il popolo si sta animando e sta crescendo in auto-stima. Ci saranno vari processi, dato che ci sono prove e testimoni: tutti vogliono andare fino alla fine; c'è anche l'appoggio di personalità importanti che si sono dimostrate sensibili.

I coordinatori dell'udienza hanno le registrazioni video di tutto quello che è successo, mostrando l'arbitrarietà della polizia. All'udienza, tutte le testimonianze sono state di enorme importanza e molto forti: il prossimo passo sarà trascrivere gli interventi di tutta la mattinata. La gente ha testimoniato per quattro ore di seguito, in una sala pienissima, e tutti sono rimasti fino alla fine.

Purtroppo la violenza non finisce tanto in fretta... e alcuni tra i più attivi hanno addirittura riscontrato minacce alla loro vita e si sono dovuti allontanare per un po'.

Condividiamo a seguire l'intervento in portoghese di p. Renato Lanfranchi, che ha aperto l'udienza, mostrando la spiritualità forte che sostiene il cammino delle comunità di base e la gravità di ciò che sta succedendo a São Paulo.

 

OITIVA PÚBLICA SOBRE CASOS DE VIOLÊNCIA POLICIAL

 

DISCURSO DE ABERTURA

 

 

No oitavo século antes as era cristã o profeta Amós dizia:

 

"Ai de vós que oprimis os fracos e que maltratais os necessitados! Ai de vós que odiais os que defendem o justo no tribunal! E que tendes horror de quem fala a verdade! O que eu quero – diz o Senhor – é ver brotar o direito como água e correr a justiça como riacho que não seca!" (Am 4,1;5,10 e 24).

 

O nosso povo está sofrendo. O nosso povo está sendo massacrado.

 

Como se não bastasse o desemprego, a falta de condições, a fome, a precariedade ou a total ineficiência dos serviços de saúde, transporte e educação! Também, devemos aguentar a ausência de segurança e o arbítrio e os excessos das força da "ordem pública".

 

Aqui, nos nosso bairros, estamos vivendo uma situação de guerra, de verdadeira guerra.

 

Uma guerra silenciosa e rastejante, uma guerra de "baixa intensidade" , como dizem, mas de grande violência. Uma guerra não declarada e que não está na mídia no dia-a-dia, a não ser que interesse ao estado para mostrar como está levando a sério a criminalidade...

 

Vez por outra esta guerra não fica tão silenciosa assim... Aí chegam as forças de invasão com carros, caminhões, cavalos e cachorros, helicópteros, jornalistas... São as mega-operações, cada vez mais frequentes, da polícia.

 

Durante a guerra do Iraque, às vezes parecia que ela tivesse chegado até nós. A gente assistia pela janela, não pela TV! Por que não fazem estas operações pente-fino, estas buscas coletivas e ilegais, lá nos Jardins, lá nos Morumbis da vida? Talvez encontrem mais bandidos e muito mais perigosos do que aqui na periferia!

 

Esta guerra trás consigo medo, angústia, falta de liberdade, toques de recolher, escolas e postos de saúde fechados... e como toda guerra as suas baixas... Esta guerra, no decorrer do tempo, faz mais vítimas do que a guerra do Iraque.

 

Mas como é só pobre que morre, quem sabe o número, que liga, quem se preocupa?

 

Esta guerra foi denunciada pela Anistia Internacional no seu último relatório sobre a situação dos Direitos Humanos no mundo. Tenho aqui um artigo da Folha de São Paulo do dia 29 de maio 2003 com o título, "Anistia compara Brasil a zona de guerra"

 

Citando o artigo:

"Os níveis de violência no Brasil são comparáveis aos de zonas de guerra ou à situação em Israel e nos territórios palestinos...

 

"Para a Anistia, o maior problema no país são as 'execuções extrajudiciais', em que 'milhares de pessoas' foram mortas em confrontos com a polícia, 'muitas vezes em circunstâncias descritas pelas autoridades como resistência seguida de morte'. De acordo com os dados do relatórios, entre janeiro e outubro de 2002, 703 pessoas foram mortas pela polícia em São Paulo... Desse total, 652 foram registradas como 'resistência seguida de morte'.

 

A Anistia também denuncia o fato de que a atuação da polícia no Brasil se concentra naqueles que vivem em 'áreas mais marginalizadas, com menos acesso à proteção do Estado ou da Justiça', segundo ele.

 

Esta violência toda tornou-se espetáculo nos meios de comunicação, especialmente na TV, para convencer todo mundo de que a periferia é mesmo covil de ladrões e assassinos e que a polícia agora vai resolver (como iremos ver na gravação).

 

É verdade que o crime tornou-se a única alternativa econômica para muitos jovens onde o poder público não oferece nenhuma alternativa.

 

Quem sofre mais nesta situação são as famílias trabalhadoras, as mães de família que perdem seus filhos, as crianças que saem de casa com medo, que vivem traumatizadas porque já viram coisas demais, que criança não deveriam ver.

 

O livro do Êxodo, ao cap. 3, na Bíblia, afirma:

 

"Eu ouvi o clamor do meu povo, conheço seu sofrimento. Por isso desci para libertá-lo" (Ex. 3, 7-8).

 

Hoje, nós aqui das comunidades de base e do Centro de Direitos Humanos do Sapopemba e das outras entidades, damos as boas vindas a vocês:

-    representantes do povo massacrado

-    lideranças comunitárias, das entidades e dos movimentos

-    e representantes do poder judiciário, legislativo e executivo

que são solidários e sensíveis às questões de direito e da dignidade humana. Sejam bem vindos!

 

Nós simplesmente queremos respeito, queremos que o povo seja respeitado.

 

Nós queremos um fim à violência, de todos as lados.

 

Queremos uma polícia cidadã, uma polícia parceira, uma polícia comunitária que dê amparo à população a garanta os direitos fundamentais das pessoas.

 

Infelizmente, o que se deve concluir hoje em dia, é que o fator de maior insegurança aqui entre nós, e no país inteiro, é o despreparo, a truculência e a corrupção das força da "ordem". É só ler os jornais.

 

Nós queremos uma polícia em que possamos confiar e não ter medo dela.

 

Queremos dialogar, como já vimos fazendo, com os setores da polícia que querem as mesmas coisas, que não esquecem de onde vieram..., e que também têm filhos, mães, irmãs, irmãos, vizinhos...

 

Queremos construir uma cultura de paz e não-violência, de cooperação e de solidariedade.

 

Queremos ver o nosso povo feliz através de políticas públicas que dêem oportunidade às pessoas de se sentirem cidadãos, e colocar a serviço da comunidade seus imensos dons de fé, criatividade, comunicação e utopia.

 

Queremos hoje dar a palavra a quem não é ouvido, voz a quem não tem mais voz porque ficou rouco de tanto gritar em vão.

 

"Bem aventurados os construtores de paz, porque serão chamados filhos de Deus." (Mt 5, 9).

 

Obrigado!

 

 

 

Pe. Renato  Lanfranchi

Parque Santa Madalena – Sapopemba – São Paulo

07 de junho de 2003